Cidadania para todos
Luciana Teixeira de Andrade*
“O ar das cidades liberta”. Passados mais de oito
séculos, esse ditado alemão se mantém atual, devido à forte relação entre a
liberdade e as cidades, lugar onde os homens conseguiram se libertar das formas
mais tradicionais de servidão. E, ainda que a cidade tenha produzido outras
formas de servidão, algumas até voluntárias, essa ideia se mantém como uma
utopia que identifica as cidades. Há discursos contrários, mas mesmo as
controvérsias e os conflitos se manifestam de forma muito mais livre e plena
nas cidades.
Mas os homens procuravam nas cidades algo mais que a
liberdade, procuravam também a cultura que se desenvolvia em seus cafés, em
suas livrarias, nas suas escolas, nas exposições e na efervescência de suas
ruas. A cidade constituiu-se então como um lugar da cultura, até porque a
cultura necessita da liberdade e da diversidade, outra característica da cidade
e talvez a que mais a distingue do campo. A cidade grande define-se por reunir
muitas e diferentes pessoas. Essa diversidade, ao mesmo tempo em que é
produtora de liberdade, pois o indivíduo não está preso a um único e hegemônico
modo de ser e de pensar, é também fomentadora das mais diferentes manifestações
culturais. A diversidade proporciona encontros inesperados e por isso mesmo
criativos e inovadores.
A palavra “cidadania” vem do latim civitas, que quer
dizer cidade. Na antiguidade clássica, o cidadão era aquele que residia nas
cidades e suas relações sociais se fundamentavam em direitos e deveres
compartilhados. Ao longo dos séculos, a cidadania foi sendo compreendida como
um conjunto de direitos. A ideia de direitos iguais revolucionou a sociedade
anterior, fundada justamente na ideia da desigualdade de status. A cidadania
institui um código comum de direitos e, ainda que certas diferenças
hierárquicas permaneçam, como as desigualdades entre as classes sociais, raça e
gênero, a cidadania significa que, apesar disso, os cidadãos compartilham os
mesmos direitos e deveres. A liberdade e a diversidade presentes nas cidades só
fizeram expandir esses direitos.
A cidadania entre nós se constituiu de forma
hierárquica, um contrassenso à ideia de igualdade que ela pressupõe. Para
entendê-la na suas manifestações cotidianas, foi necessário construir estranhos
conceitos como subcidadãos ou hipercidadãos, cidadania regulada, cidadãos em
negativo, estadania, entre vários outros. Estranhos, mas necessários para a
compreensão de nossas persistentes desigualdades. Ainda que não se deva
desconsiderar as mudanças e conquistas, muitas desigualdades fundamentais, e
não apenas diferenças, permanecem. E, se permanecem, a cidadania não pode ser
plena, até porque o exercício de um direito pressupõe o exercício de outros. O
direito à cultura pressupõe o gozo dos direitos civis, que têm a ver com a
manifestação livre do pensamento, com o direito de ir e vir, e, portanto, de
acesso livre aos diferentes territórios da cidade. Esse, por sua vez, pressupõe
o direito à vida digna e à inclusão na cidade. Já o direito à participação
política se beneficia e se completa com o direito à educação e à informação.
Conclusão:
O contexto relaciona as dimensões entre cultura, cidade
e cidadania que estão intimamente relacionados, mostrando direitos e deveres
dos cidadãos, mas nem todos aqueles que vivem na cidade usufrui igualmente do
direito à cidade, entendido como uma vida digna com acesso a tudo aquilo que
ela proporciona, como direito a liberdade de ir e vir, de manifestar opiniões, de
poder trabalhar, educar-se e de morar dignamente, ter acesso á cultura nas suas
diversas formas. Mas para que os direitos sejam exercidos de maneira plena é
necessário que seja instituído legalmente.
Postado por: Selma Luciano
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